O princípio socrático “conhece-te a ti mesmo” foi inscrito no pátio do Templo de Apolo em Delfos.
O processo psicanalítico tem por base este princípio o que implica a capacidade do sujeito de se conhecer a si próprio, mas também a capacidade de, na relação com o Outro, descobrir novos sentidos e novos significados.

“Não andes lá por fora mas entra em ti mesmo e debate-te; procura, sim, aquilo sem o qual nada pode ser procurado; procura a lei do teu movimento interior, o sustento do teu eu.” – Sócrates 428 A.C.

O desenvolvimento emocional do ser humano passa pela dialética Eu e o Outro (o ambiente), ou seja, pela relação. Os cuidados da pessoa cuidadora, na fase inicial de vida, são primordiais na constituição saudável do ser humano como identidade unitária. Se o ambiente foi cuidador o crescimento do bebé realiza-se de forma saudável, no entanto, se num determinado momento este não foi suficientemente cuidador pode emergir o adoecer psíquico, uma paragem no crescimento do individuo diante do impedimento de algo que precisava de ter acontecido e não aconteceu. As consequências da falha ambiental para a saúde psíquica da criança podem ser relacionadas de acordo com o momento em que a falha acontece na linha de evolução (Winnicott).

“O self forma-se com base nas experiências que o bebé acumula”. – Davy Bogomoletz

O desenvolvimento do sujeito consiste num conjunto de etapas pontuadas por crises naturais (constituição do casal, nascimento do primeiro filho, nascimento do segundo filho, ida para o infantário, escola, adolescência, escolhas profissionais, saída de casa dos pais e a reforma) e/ou crises acidentais (luto, divórcio, emigração de um dos pais, doença súbita, entre outras).

As crises podem conduzir a um impasse em que o equilíbrio interno se encontra perturbado e se traduz pela dificuldade do sujeito na resolução do problema, em como fazer diferente, em ser criativo. Se este impasse durar muito tempo o desconforto emocional tende a agravar-se e podem aparecer sintomas como estados de ansiedade, sentimentos de angústia, apatia, desinteresse, tristeza, entre outros. Mas se o impasse desaparecer então houve evolução, o sujeito foi capaz de atingir o reequilíbrio interno por meio da transformação do modelo relacional existente.

“A Crise é, simultaneamente, ocasião (de crescimento, de evolução) e risco (de impasse, de disfuncionamento)”.  – Minuchin

Iniciar um acompanhamento psicológico não tem de ser apenas quando existe uma patologia ou um problema mas também quando se procura um auto conhecimento, conhecer-se melhor, “conhecer-se a si mesmo”. A reflexão conduz à transformação, à mudança pessoal, é um trabalho feito de “dentro para fora”, e não de “fora para dentro” (“se tivesse muito dinheiro era feliz”, “quando estou triste vou às compras para me sentir melhor”). O processo psicoterapêutico é uma proposta de crescimento daquele que procura ajuda profissional.

Ao longo destes anos enquanto psicóloga clínica verifico que de um modo geral o pedido quando é feito o sintoma já está muito instalado e com impacto na esfera familiar, social e profissional. O trabalho que se tem vindo a desenvolver no âmbito da Prevenção da Saúde Psicológica visa contrariar este quadro ao alertar para a importância da intervenção  aos primeiros sinais de alarme, pedir ajuda logo que o sujeito identifique mudanças negativas na forma como se sente e se relaciona com os outros.

“Quanto mais cedo se procura ajuda, mais fácil é resolver o problema” . – Daniel J. Reidenber